22/04/11

MONUMENTAL NATURALIDADE



O trabalho de arquitectura do atelier Smolenicky & Partner para as termas Tamina, em Bad Ragaz, na Suíça, assume uma monumentalidade harmoniosa com a sua envolvente e incrementa a qualidade dos já altos padrões de turismo desta região tornada famosa pelas suas águas medicinais.

Projecto de arquitectura: Smolenicky & Partner
Fotografia: Roland Bernath, Walter Mair e arquivo Smolenicky & Partner



A região suíça de Bad Ragaz, a Noroeste de Davos e enconstada ao Liechtenstein, é famosa pelos seus atractivos turísticos, de Inverno e de Verão, e pelas suas águas termais. A tradição das termas remonta a meio do século XIII, quando peregrinos rumavam até a Abadia de Pfafer, beneficiando das águas revigorantes e quentes vindas do interior das montanhas. A meio do século XIX as águas termais de Pfafer foram canalizadas para a vila de Ragaz, a quatro quilómetros de distância. Nascia assim a estância termal de Bad Ragaz que mantém até hoje uma reputação mundial pela suas águas medicinais e por um conjunto de oferta hoteleira de luxo.
O atelier de arquitectura suíço Smolenicky & Partner ganhou o concurso para a construção, lançado em 2003, das termas Tamina. O projecto integra um plano de intervenções no valor de 160 milhões de francos suíços, incluindo um hotel de 5 estrelas, adjudicado à Hilmer & Sattler e Albrecht Architects.
O planeamento urbanístico da vila de Bad Ragaz é dominado pela existência de edifícios largos que se vão expandindo pela paisagem. Durante a Belle Époque foi notória a tendência de construir hotéis monumentais nas proximidades de vilas. Os alpes suíços não escaparam a esta filosofia, tendo bons exemplos disso em Interlaken, St. Moritz e Gstaad.
O novo edíficio das águas termais foi deliberadamente implantado no beco sem saída do acesso às instalações públicas do resort, como o novo centro de conferências, o casino e a casa do clube de golfe. O segundo beco que dá para o parque foi mantido livre de construções, dando um acesso com uma atmosfera mais calma e privada aos hotéis.
A forma do volume construído pelo atelier Smolenicky & Partner derivou dos enquadramentos dos espaços exteriores. Na área dos banhos ao ar livre, o volume do edifício foi recuado abrindo espaço para um enfiamento visual dos revaldos até às ladeiras nos cumes das montanhas. A paisagem e a atmosfera do parque estão preservadas, apesar da forma compacta do edifício. A entrada nas termas foi posicionada num ponto fulcral, marcando a sua presença vista da estrada principal e reforçando o facto de ser uma instalação pública. O critério do projecto das termas Tamina foi concebido como parte da cultura dos grandes hotéis, em que a identidade estética do edifício procurou afinidades com a tradição construtiva suíça como aquela existente na costa báltica.



O carácter monumental de Tamina é no sentido de se manter em igualdade de circunstâncias com os outros edifícios do resort. Os banhos termais foram concebidos para relativizar o carácter quase urbano, do trabalho em pedra existente no hall Primavera do spa. Daí a razão para se prosseguir para o trabalho em madeira, em branco, no interior dos banhos termais e que nos dá a sensação de um pavilhão com a arquitectura de uma estância histórica. Esta estratégia de usar uma arquitectura explícita de resort é sublinhada no aspecto formal e fantasioso das janelas ovais. Visto do interior, as janelas causam um efeito extra dimensional de molduras. As molduras ovais foram amplamente usadas na era victoriana, mostravam temas de grandes paisagens. Os arquitectos pretenderam dar uma expressividade à vista sobre a paisagem por intermédio do movimento das janelas.
O interior de Tamina é uma metáfora que serve como uma analogia à floresta, preenchido por árvores separadas. No exterior foram colocados suportes nas zonas periféricas do volume do edifício. Em termos estruturais, o projecto pode ser entendido como uma floresta, criada por colunas ao invés de árvores. Um total de 115 suportes produzidos da madeira de 2,200 árvores provenientes de uma região suíça, a pouco mais de duas horas e meia de distância do local.



Em termos de aparência, na utilização de materiais e de expressividade, o edifício segue todo ele o mesmo programa, ao utilizar ripas de madeira, pintadas a branco. É neste sentido que a memória descritiva do atelier Smolenicky & Partner dá enfase ao facto do projecto não ter uma arquitectura de interiores e resultar antes como uma peça única.
A estrutura em madeira do edifício não foi meramente determinada pelo critério de distribuição dos seus suportes. Ao invés de se focar na engenharia da função dos suportes e no reforço da construção, o desenho da estrutura recaiu mais sobre o fenómeno espacial, criando uma atmosfera bonita e cerimonial. Uma espantosa homenagem à cultura dos banhos.



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